A Argentina adverte que a presença «provocadora» das tropas kosovares nas Malvinas é uma «ameaça» regional.

O Secretário das Malvinas do governo argentino, Guillermo Carmona, denunciou que a presença de militares kosovares no arquipélago não é apenas uma “provocação” que acrescenta um “perigo” extra a uma situação já de si tensa, mas também contraria as resoluções sobre a sua desmilitarização.

“A entrada de actores do terceiro Estado ou, neste caso, de uma entidade não estatal como o Kosovo, é sem precedentes. É uma inovação que aparece ao mesmo tempo como uma provocação”, disse Carmona numa entrevista com a Europa Press durante uma visita oficial a Madrid.

“O governo britânico não deu qualquer argumento e deveriam explicá-lo”, disse Carmona em relação aos sete soldados kosovares que viajarão para as Malvinas para participar numa “missão de paz” acordada com o governo britânico.

Carmona adverte que, com esta decisão do Reino Unido, um contexto de “tensão”, como no caso do Kosovo, está a ser transferido da Europa para uma zona de paz e cooperação, tal como definida pelas Nações Unidas no Atlântico Sul. “Esta presença militar é um factor perturbador”, visto pelos países vizinhos como “ameaçador”, disse ele.

“A verdade é que acrescentar terceiros de áreas conflituosas do mundo implica acrescentar um grau de complexidade e perigo à situação, que acreditamos ser importante destacar”, disse Carmona. Uma preocupação que a Argentina levantou na semana passada nas Nações Unidas.

Salientou que através do que é conhecido como a Agenda dos 40 anos das Malvinas, conseguiram defender os interesses do Estado no arquipélago a nível internacional, tal como estabelecido na Constituição, e ao mesmo tempo destacar a “relutância” do Reino Unido em negociar e o seu “flagrante” incumprimento das resoluções das Nações Unidas que proíbem acções unilaterais.

“Intensificámos a nossa acção diplomática, especialmente nas Nações Unidas, no contexto do Comité de Descolonização (…) Tentámos deixar bem claro que, após 190 anos de usurpação britânica, agora concluída em Janeiro, e mais de 40 anos da Guerra das Malvinas, esta questão merece diálogo e negociação sobre a questão da soberania”, afirmou.

BRITISH DISCREDIT ON THE INTERNATIONAL LEVEL Carmona também falou sobre a recente posição favorável do Reino Unido ao sentar-se para negociar com as Maurícias sobre a possível descolonização do arquipélago de Chagos e como isto poderia beneficiar a causa argentina em relação às Malvinas.

“O caso de Chagos é talvez a viragem mais importante na política externa que o Reino Unido tem feito desde Brexit”, disse Carmona, que, embora tenha qualificado que o caso deste arquipélago situado no Oceano Índico é diferente do das Malvinas, existem “pontos de contacto” uma vez que se trata de um território onde existem alegações de presença colonial.

“Para nós este é um precedente muito importante porque confirma a ideia de que quando as circunstâncias internacionais estiverem certas, a Argentina terá também um processo de negociação com o Reino Unido. Não tenho dúvidas”, confidenciou ele.

Carmona explicou que esta “importante mudança” na política externa do Reino Unido deriva da actual situação geopolítica global, na qual tem “problemas de reputação internacional”, não só por não cumprir as resoluções das Nações Unidas, mas também por ter perdido “peso específico” no Oceano Índico.

“Entretanto, devemos persistir no nosso objectivo e manter a questão das Malvinas na agenda internacional”, salientou Carmona, que destacou a “grande exibição” da Argentina no último ano ao expor esta questão como um caso de “colonialismo à espera de uma solução”.

A desmilitarização da região Carmona exigiu também que o Reino Unido fosse mais “transparente” sobre a possível presença de armas nucleares no arquipélago, como revelado há pouco mais de um ano pelos britânicos, que reconheceram ter enviado até 31 bombas deste tipo durante a guerra em 1982.

“Não podemos afirmar que neste momento existem armas nucleares nas Malvinas, mas também não podemos excluí-las. O que a Argentina continuará a fazer é a exigir transparência e boa fé no fornecimento de informações fiáveis sobre esta questão. Na verdade, o Reino Unido continua a manter silêncio sobre o destino destas 31 bombas nucleares”, disse Carmona.

“A Argentina exige um processo de desmilitarização das Malvinas e do Atlântico Sul, que é uma zona de paz”, insistiu Carmona.

A PERGUNTA MALVINAS COMO UM IMPELHO NACIONAL Carmona salientou também que tudo o que tem a ver com a soberania das Ilhas Malvinas é tratado “diariamente” na Argentina e tem um peso importante como elemento de “identidade” e unidade para além das ideologias.

“É uma questão de identidade muito forte e a Agenda 40 Anos das Malvinas reforçou esta questão, não só numa perspectiva de descolonização, mas também para todos aqueles que caíram e veteranos (…) que não tomaram a decisão de ir para a guerra, nem tomaram decisões políticas ou militares”, reconheceu ele.

Neste sentido, assegurou que o triunfo da Argentina no Campeonato do Mundo no Qatar mostrou as “raízes populares” que esta questão tem no coração da sociedade argentina. “Ver Messi e o resto dos campeões mundiais a cantar canções que se referem às Malvinas e à sua queda tem sido um evento mobilizador muito importante”, sublinhou.

Finalmente, Carmona disse que as questões de soberania de Malvinas terão um lugar proeminente nas celebrações do 40º aniversário da democracia na Argentina. “Malvinas é uma causa popular”, sublinhou ele.

“Se democracia é sinónimo do povo, neste governo do povo por e para o povo, o facto de a questão das Malvinas estar enraizada como causa popular significa que existe uma ligação natural entre Malvinas e a democracia”, disse ele.

Fonte: (EUROPA PRESS)

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