“Estávamos sendo governados por uma gente de porão”, diz ministro do STF Gilmar Mendes

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes reagiu, na manhã desta sexta-feira (03), em Lisboa, às denúncias feitas pelo senador Marcos do Val sobre uma suposta articulação de um golpe para impedir a posse de Lula.

Caroline Ribeiro, Lisboa

“A gente estava sendo governado por uma gente do porão, isso é um dado da realidade. Pessoas da milícia do Rio de Janeiro com protagonismo na política nacional. Isso que resulta quando nós vemos a nominata desses personagens e que mostra que a gente tem que ter preocupação até com a preservação mesmo da nossa integridade física”, disse o ministro a jornalistas antes de sua participação no evento organizado pelo LIDE, o grupo empresarial do ex-governador de São Paulo João Dória.

Questionado sobre a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser chamado para depoimento no âmbito da investigação sobre os ataques de 8 de janeiro em Brasília e, agora, das denúncias feitas por Marcos do Val, Gilmar Mendes disse que é preciso esperar. “Vamos aguardar esses desdobramentos e essas comunicações, eventuais quebras de sigilo, para saber qual é o grau de envolvimento (de Bolsonaro). Em suma, todos esses elementos mostram que havia algo em andamento que não era para o bem da democracia”, afirmou o ministro.

O senador Marcos do Val acusa o ex-presidente Jair Bolsonaro e o ex-deputado federal Daniel Silveira de incitarem um golpe para impedir a tomada de posse do presidente Lula. Do Val afirma ter recebido um pedido para gravar conversa com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e usar o conteúdo para anular as eleições.

Gilmar Mendes considerou que, no momento, a denúncia é um “imbróglio indecifrável” e não comentou o fato de Marcos do Val declarar que avisou Alexandre de Moraes sobre o possível golpe.

“Traumas institucionais”

Também presente no evento, o ex-presidente Michel Temer disse que é preciso acabar com “os traumas institucionais” que ocorreram no Brasil nos últimos anos, como o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Ainda assim, Temer enfatizou que chegou “institucionalmente ao poder”.

A solução apontada pelo ex-presidente para uma maior tranquilidade política seria a mudança para o semi-presidencialismo, sistema adotado em Portugal, em que o presidente da República e o primeiro-ministro dividem as funções do poder executivo.

“Em dado momento do país, deveríamos caminhar para uma reforma do sistema de governo. Nós precisávamos nos inspirar no exemplo de Portugal. O semi-presidencialismo traz tranquilidade absoluta para o país”.

Também participa do evento presencialmente em Lisboa o ministro do STF Ricardo Lewandowski, que, durante sua fala, disse que o Brasil “sobreviveu ao 8 de janeiro, em que os poderes da República foram invadidos e destruídos. Mas a democracia brasileira é resiliente e sobreviveu a esse ataque antidemocrático”.

Os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso devem intervir no evento através de participações online do Brasil.

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